O município do Rio de Janeiro deu um passo inédito ao oficializar as práticas tradicionais das matrizes africanas como formas complementares de cuidado à saúde dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). A medida, publicada no Diário Oficial na última quarta-feira (19), resulta de uma Resolução Conjunta das Secretarias de Meio Ambiente e Clima e Saúde e tem gerado debates e questionamentos sobre sua implementação.
Com esse reconhecimento, rituais como ebós, banhos de ervas, chás, defumações, amacis e boris passam a ser compreendidos como recursos terapêuticos complementares. Tais práticas chegaram ao Brasil trazidas por povos africanos escravizados e, ao longo dos séculos, foram preservadas e ressignificadas, dialogando com saberes indígenas e afro-diaspóricos.
O babalaô e professor Ivanir dos Santos vê a medida como um avanço, mas aponta desafios na aplicação prática. Ele questiona de que forma essas práticas serão incorporadas ao sistema público de saúde e se suas recomendações serão respeitadas pelos profissionais do SUS. Além disso, destaca a importância de criar uma coordenação específica para essa integração e de estabelecer critérios adequados para selecionar os responsáveis pela aplicação dessas terapias, valorizando o conhecimento tradicional mesmo sem formação acadêmica formal.
Por outro lado, o vereador Rony Gabriel (Republicanos-RS) demonstrou ceticismo sobre a iniciativa. Em suas redes sociais, ele criticou a inclusão dessas práticas, comparando-as a terapias alternativas já debatidas, como a ozonioterapia, candomblé e o uso de cachaça com mel, sugerindo uma comparação entre elas e colocando em dúvida sua eficácia.
A resolução também estabelece que unidades municipais de saúde, como clínicas da família e centros de saúde, devem respeitar preceitos religiosos, restrições alimentares e demais particularidades culturais no atendimento a pacientes que seguem essas tradições.