Indígenas marubo no Vale do Javari, oeste do Amazonas, estão conectados à internet via satélite da Starlink, empresa de Elon Musk, há pelo menos nove meses. Entretanto, os impactos negativos dessa conectividade constante, como o vício em pornografia, já são perceptíveis. É o que revela uma reportagem do The New York Times.
Os correspondentes Jack Nicolas e Victor Moriyama viajaram à Floresta Amazônica e constataram que essas mudanças de comportamento afetam principalmente os jovens e adolescentes marubo. Os repórteres compararam a situação com a sociedade americana, destacando que após apenas nove meses de uso da Starlink, os marubo já enfrentam desafios comuns nos lares dos Estados Unidos: adolescentes grudados nos celulares, fofocas em chats de grupo, redes sociais viciantes, contatos com estranhos online, videogames violentos, fraudes, desinformação e consumo de pornografia por menores.
Uma indígena entrevistada, TamaSay Marubo, expressou preocupação com a crescente preguiça dos jovens, que estariam "aprendendo os costumes dos brancos".
— Quando a internet chegou, todos ficaram felizes, mas agora as coisas pioraram. Os jovens ficaram preguiçosos. Estão aprendendo "os costumes dos brancos" — relatou TamaSay, uma das lideranças do grupo.
Ela também lamentou a falta de interesse dos jovens por atividades culturais como pintura corporal, coleta de frutas e confecção de acessórios com conchas, que agora são menos atraentes do que as redes sociais. As plataformas mais populares entre os indígenas são Instagram, Kwai e WhatsApp.
Alfredo Marubo, outro líder da aldeia mencionou que os jovens consomem e compartilham material adulto via celular, algo antes inexistente na tribo, onde nem beijos em público são admitidos.
A Starlink, criada para fornecer internet de alta potência até nas regiões mais remotas, já conta com mais de 150 mil clientes. Segundo a Anatel, os acessos à banda larga via satélite fornecida pela Starlink aumentaram de 57,6 mil em maio de 2023 para 149,6 mil em fevereiro deste ano, com crescimento mais expressivo nas regiões da Amazônia e do Centro-Oeste.